A Ciência explica porque fazer cócegas em crianças pode ser prejudicial e que não sabemos o bastante acerca deste assunto
Enquanto a maioria de nós discorda dessa ideia, um estudo demonstra que apenas 32% das crianças pesquisadas relataram as cócegas como algo positivo, com 32% de respostas neutras e 36% de crianças afirmando que não gostam que lhes façam cócegas.
Todos nós recebíamos “cosquinhas” de vez em quando, quando éramos crianças, e por isso assumimos que essa prática é uma coisa normal. Mas vale lembrar que quando éramos pequenos, não usar cinto de segurança também era considerado normal.
Analisando várias pesquisas que conduziram a esse tópico, o Bright Side quer esclarecer porque você deveria parar de fazer cócegas e encontrar outra maneira de ter momentos de diversão com seus filhos. Possivelmente, contar uma piada engraçada é uma ideia melhor.
Só porque a criança ri, não significa que ela gosta disso.
Crianças, sobretudo as mais sensíveis, não conseguem parar de rir se alguém lhes faz “cosquinhas”, mesmo que elas odeiem isso. Essa risada-reflexo dá aos pais a ilusão de que seu pequeno está gostando da brincadeira, quando, na realidade, não está. Em um estudo conduzido na Universidade da Califórnia em 1997, cientistas descobriram que as cócegas não causam o mesmo sentimento de felicidade criado quando alguém ri de algo engraçado. Fazer cócegas apenas cria uma ilusão externa de que a pessoa está rindo.
Fazer cócegas é uma forma de afirmar dominação.
© David Shankbone / Wikimedia Commons
Um indivíduo que está sendo estimulado por meio de cócegas perde seu autocontrole. E a luta para recuperar esse controle pode ser humilhante para um infante, podendo deixar memórias desagradáveis por toda uma vida.
Quando adultos fazem cócegas em crianças, a intenção é interagir de uma boa forma, mas isso não quer dizer que a reação a isso não seja nociva.
De acordo com o Doutor Richard Alexander, Professor de Biologia Evolutiva na Universidade de Michigan, fazer cócegas pode muito bem ser uma demonstração de dominância, ao passo que o riso seria uma maneira evolutiva de demonstração de submissão.
As cócegas têm sido usadas como meio de torturas pessoas há eras.
Fazer cócegas tem sido usado há muito tempo como forma de tortura. Durante a Dinastia Han, na China, as cócegas eram utilizadas para torturar membros da nobreza, uma vez que a atividade não deixava marcas e a vítima poderia ter uma recuperação fácil e rápida. (Nota da tradutora: trocar as calça molhadas?)
O método também era popular no Japão, onde até chegaram a cunhar um nome específico para a prática: “Kusuguri-Zeme”, que significa “cócegas impiedosas”.
Vernon R. Wiehe, da Universidade de Kentucky, estudou 150 adultos que sofreram abusos de seus irmãos durante sua infância. Grande parte deles relatou as “cócegas” como uma espécie de abuso físico. O estudo concluiu que cócegas podem causar reações psicológicas extremas como vômitos e perda da consciência, juntamente com o comprometimento da capacidade de respirar.
Talvez seu filho não consiga pedir para você parar.
As cócegas causam tipos de risadas incontroláveis. Esse riso nervoso pode alcançar um ponto ápice em que a pessoa passa a ter dificuldade em respirar, sem nem ao menos conseguir expressar essa situação difícil. Algo que começa como “diversão” pode causar sérios problemas médicos. E por que se divertir dessa maneira se há tantas outras formas de ter bons momentos juntos?
Cócegas podem causar problemas de confiança por toda uma vida.
© Mr.Robot / Universal Content Productions
De acordo com o Dr. Alexander, cócegas contra a vontade, podem, de fato, causar uma dor mental profunda. E por vezes essa dor pode durar uma vida inteira.
Patty Wipfler, especialista em Paternidade, fundadora e diretora da “Hand in Hand Organization“, diz que, a partir de sua experiência, cócegas durante a infância são uma causa comum para problemas emocionais até mesmo em adultos. Ela escreve: “Vi, ao longo de muitos anos ouvindo pessoas adultas falarem sobres as questões emocionais de sua fase pueril, que as cócegas reaparecem frequentemente como uma experiência reputada como dolorosa”. Ela diz ainda que o trauma pode levar a uma situação na qual a pessoa afetada não consegue relaxar quando há outras pessoas por perto, sente-se insegura mesmo quando está dormindo, e está internamente sob estado de alerta todas as vezes que recebe um toque mais do que casual, até mesmo de uma pessoa que ama.
Há formas melhores de dizer “eu te amo” para o seu bebê
Pais e Mães normalmente acreditam que sabem bem o que é o melhor para seus filhos e, por experiência própria, acham que cócegas são normais. Contudo, dadas as muitas desvantagens da cócega, e sendo claro que há muitas outras formas de se criarem laços, é melhor evitar “cosquinhas”. E se, por alguma razão, você achar que deve persistir nisso, ao menos peça permissão para a criança. Pais deveriam sempre perguntar antes de tocar a criança, ou antes de tomar decisões que afetem seus corpos.
“Dar aos seus filhos o controle sobre o próprio corpo, e o direito de dizer não – até mesmo para os pais ou outras figuras de autoridade – é mais efetivo do que simplesmente ensinar o que é respeito” , diz Goerlich, que passou muitos anos trabalhando em casos de abuso sexual praticado contra crianças. “Isso dá a eles ferramentas e poder necessários para reforçar seus próprios limites em situações em que a abordagem física não seja necessariamente benéfica. ‘ Você disse que já chega, então eu estou parando agora mesmo’ é uma das mais importantes lições que pais podem ensinar a seus filhos.”
Passar aos nossos filhos a mensagem de que eles não têm autonomia sobre seu próprio corpo vai contra tudo o que deveríamos estar ensinando sobre liberdade e consentimento.
Texto original do site Bright Side, traduzido e adaptado por Raquel Pinheiro (Walf Traduções) para o nerdgeekfeelings
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